PADRE MORORÓ: 200 ANOS DE UM MARTÍRIO HEROICO – UM SACRIFÍCIO QUE O TEMPO NÃO APAGA.
Domingos Pascoal
Dia 30 de abril de 2025, completaremos 200 anos da prematura e covarde execução de nosso mais ilustre conterrâneo: Gonçalo Ignácio Loiola Albuquerque Mello, o Padre Mororó. Ele foi vítima das forças imperiais do nepotista Dom Pedro I, mas sua memória permanece viva como um dos maiores mártires da Confederação do Equador.
Para entender a grandiosidade desse herói, vamos conhecer sua origem, trajetória e seu legado.
Padre Mororó nasceu em 24 de julho de 1778, na localidade de Riacho do Guimarães, atual município de Groaíras, Ceará. Filho do Alferes Félix José de Souza e Oliveira e de Theodózia Maria de Jesus, cresceu em uma casa simples, localizada cerca de cem metros após o ancestral riacho do Guimarães, onde hoje fica o bairro que leva seu nome.
Desde pequeno, demonstrou inteligência excepcional e paixão pelo conhecimento. Estudou as primeiras letras com o Tenente Manoel Correia Lopes e, em 1793, aos 15 anos, mudou-se com sua família para Sobral, onde seu pai tornou-se escrivão e vereador.
Foi em Sobral que iniciou os estudos de Latim com o Padre Manoel Francisco Rodrigues da Cunha, destacando-se tanto que, por vezes, substituiu seu mestre quando este precisou se ausentar para compromissos com o bispo no Recife.
No início do ano de 1800, foi levado pelo seu professor Padre Manoel Francisco Rodrigues da Cunha, à Província de Pernambuco, onde ingressou no recém-criado Seminário Nossa Senhora da Graça, em Olinda.
Já na sua chegada foi marcante: impressionou a todos ao compor poemas de saudação para o reitor e fundador da instituição, Dom José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho.
No mesmo final do mês em que começou a estudar recebeu uma notícia que poderia ter mudado tudo: foi informado de que seu pai morrera e que necessário se fazia que ele voltasse pois não tinha quem cumprisse com as despesas de manutenção naquela escola.
Levou esta notícia ao Senhor Reitor que decidiu por contratá-lo como seu secretário para que assim cumprisse com as despesas do internato.
Em novembro de 1802, foi ordenado Presbítero do Hábito de São Pedro e de imediato designado, pelo bispo diocesano a retornar à Provincia do Ceará, onde em 09 de dezembro de 1802, celebrou a sua primeira missa na Igreja Matriz de Sobral, onde permaneceu até 1806, prestando auxílio ao Padre Manoel Pacheco Pimentel, nos serviços paroquiais e nas atividades relacionadas com a educação.
Após estes quatro anos na paróquia de Sobral, foi designada pela Diocese de Pernambuco
Muito Além do Sacerdócio
O talento de Padre Mororó não se restringia ao altar. Ele se destacou em diversas áreas:
1. Grande Orador Sacro, encantava e atraia fiéis às suas homilias;
2. Primeiro escritor cearense a ter um livro publicado pela Typographia Real com Licença da Meza de Desembargo do Paço, em 1818.
3. Primeiro jornalista do Ceará, com a impressão do Diário do Governo, em 01 de abril de 1824.
4. Secretário do governador da Província Manoel Ignacio Sampaio Pina e Freire de 1816 a 1820.
5. Secretário de Tristão Gonçalves, então presidente da província do Ceará em 1824.
6. Secretário do Grande Conselho que instalou o governo revolucionário de Tristão Gonçalves, no dia 26 de agosto de 1824.
7. Professor de Latim nomeado pelo Governado Sampaio.
8. Cavaleiro de Cristo insígnia recebida da Imperatriz Regente D. Leopoldina. O Despacho concedendo a Insígnia de Cavaleiro de Cristo a Gonçalo Ignácio Loiola de Albuquerque Mello, foi da lavra por Dona Leopoldina, Imperatriz do Brasil e, foi publicado na edição de nº 92 da Gazeta do Rio de Janeiro de quarta-feira dia 18 de novembro de 1818.
9. Um dos mais destemidos revolucionários da história do Brasil.
O vaticínio de Dom Azeredo revelou-se certeiro: "Este moço há de se perder na primeira revolução que surgir." E assim foi. Padre Mororó não se perdeu; ele entrou para a História.
A Confederação do Equador e a Luta pela Liberdade, em 1824, Padre Mororó tornou-se uma figura central na Confederação do Equador, movimento republicano que mobilizou o Nordeste contra o autoritarismo de Dom Pedro I.
Com a coragem e determinação, ocupou papel estratégico na administração do governo revolucionário cearense, servindo como secretário de governo de Tristão Gonçalves. Além disso, comandava a redação e publicação do Diário do Governo, o primeiro jornal impresso do Ceará, no qual defendia a liberdade e incentivava a população a lutar pela independência.
O Martírio de um Patriota
Após a derrota da Confederação do Equador, Padre Mororó foi capturado pelas tropas imperiais. Condenado à morte, foi executado em 30 de abril de 1825, na Praça dos Mártires, em Fortaleza.
Seu momento final foi um ato de bravura e dignidade. Recusando a venda nos olhos, cruzou as mãos sobre o peito e apontou para seu próprio coração, dizendo: "Aqui está o alvo." O estampido silenciou sua voz, mas seu nome ecoa na eternidade.
O Legado de Padre Mororó
Apesar de sua trágica morte, sua memória jamais foi esquecida. Em Groaíras, sua terra natal, seu legado é celebrado pelo Memorial Padre Mororó, pelo bairro que leva seu nome e por diversas homenagens.
Estudiosos, Professores, Historiadores, Acadêmicos e, os Estudantes Groairenses seguem incentivando, estudando e divulgando sua trajetória, reafirmando seu papel na luta pela a educação justiça e liberdade.
Padre Mororó não foi apenas um sacerdote ou um jornalista. Ele foi um herói. Um defensor incansável da liberdade, cuja coragem inspira gerações.
Seu nome brilha entre os mártires da História Nacional, lembrando-nos que a luta por um Brasil mais justo sempre valerá a pena.
Padre Mororó: herói de Groaíras, herói do Brasil!