quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

O IDEAL É EVIDENCIAR O QUE PODE E DEVE SER REPARADO

 O IDEAL É EVIDENCIAR O QUE PODE E DEVE SER REPARADO

 

 

“Prefiro uma mentira que me 

favoreça a uma verdade

que me prejudique” 

Provérbio Escocês

  

                                                                     

Vamos imaginar que você está realizando um dos maiores sonhos de toda a sua vida. Está construindo uma casa.  Aquela tão sonhada e esperada moradia que a sua família há muito queria.

Foram anos de sacrifício, economizando até os centavos para juntar o dinheiro do terreno, contratar um arquiteto e iniciar a obra.

No momento toda a estrutura está pronta. Agora vem a fase mais crítica, a do acabamento: piso, pintura, iluminação, gesso, portas etc.

Aí, você comentando com um amigo, esta sua realização, começa a enumerar os benefícios dos quais muito em breve usufruirá e, feliz, relata para ele as vantagens de sair de onde está e morar no que é seu, diz que a localização é muito boa, fala da vizinhança que terá, da acessibilidade, da eficiência e profissionalismo do arquiteto, dos pedreiros que estão executando a obra. Fala eufórico a respeito do jardim, da área do terreno. Enfim, demonstra toda a sua felicidade…

Então, aquele amigo, para quem você está tecendo todas aquelas loas, se convida para dar uma olhada. Ele sentencia magistralmente:

 Olha, eu gostaria de dar uma olhada, pois você sabe, construção é construção e eu já sou traquejado nisso. Portanto, quando você for por lá eu quero ir também, quem sabe eu possa dar-lhe algumas ideias.”.

 Você, na melhor das intenções, leva o cidadão até o canteiro da obra.

De longe, ainda antes de chegar, todo entusiasmado ele diz que terreno é muito bem localizado, e que, pelo tamanho, é mais do que suficiente para que lá seja plantada uma casa de muito bom gosto… Até aí, você contabiliza vantagem.

E, realizado, exclama para você mesmo: “acertei, eu sabia, até fulano (seu convidado) um homem acostumado a construir, exímio conhecedor da nossa cidade, está elogiando, que bom”.

Mas, quando ele adentra no lote, onde está sendo erguido o seu palácio, exclama em tom de repreensão: “Por que esta escada está colocada aqui? Local de escada não é na frente da casa ela deve ser construída na parte posterior do imóvel…”. E estes pilares? Meu Deus, quem foi mesmo o arquiteto que fez esta besteira? Como pode, olha o tamanho desta sala; aqui não dá nem para a gente fazer um jantar e os amigos tomar uma cervejinha. Tanto espaço desperdiçado… E fala disso, condena aquilo, sugere alterações etc.

E você ali, humilhado, entristecido com aqueles “erros”. Tenta contra-argumentar, pois vendo que nada mais pode alterar, porque o que está feito até ali, são intervenções imutáveis numa obra: pilares, escadas, vigas e paredes que, se removidas, comprometem toda a estrutura, bem como seria muito desperdício de material, mão-de-obra, tempo e, sobretudo dinheiro. Suado e contado dinheirinho de suas economias de que você não dispõe mais.

Lamentando você imagina: mas que droga! Nós não percebemos isso. Realmente não contratei os melhores profissionais. Bem que me disseram para eu procurar fulano. Agora vou ter que conviver com isso para o resto da vida…

Para arrematar, seu convidado o chama para um canto para que a os trabalhadores não escutem e diz: você vai continuar com isso? Olha, na verdade, foi muito bom eu ter vindo aqui. Se você quiser, eu falo com fulaninho, meu amigo, este sim um grande profissional, para ele vir aqui e dar uma olhada e ver o que pode ser feito para consertar este estrago que vocês estão fazendo na sua propriedade. Garanto que mudará esta escada para um lugar mais discreto, retirará estes pilares que estão enfeando e diminuindo o tamanho de sua sala…

Neste momento, amigo, eu não sei com quem você está mais frustrado. Se com a pessoa que desenhou sua casa, se com você mesmo, que de bom grado aprovou o projeto ou se com aquele infeliz, seu convidado, que jamais poderia, a esta altura dos acontecimentos, evidenciar tais “defeitos”, se é que, de fato, eles existem.

Porém, se você não usar de muito equilíbrio, nesta hora ligará imediatamente para aquele corretor que disse ter uma pessoa interessada num imóvel exatamente onde você está construindo… Tamanho é o seu desespero. E tudo por uma interferência impensada de uma criatura que se diz querer ajudar e, ao contrário, compromete todo o seu prazer e alegria, “descobrindo”, como se diz por aí, “pelo em ovo

Pode até ser que o tempo apague ou que o seu ponto de estabilidade saiba minimizar os efeitos destrutivos daquelas observações descabidas e que você, pouco caso fazendo daquilo, usufrua de sua nova morada, como sempre imaginou antes daquela fatídica e infeliz visita.

 Usei apenas este exemplo, porém, outros poderiam ser mostrados, pois os “urubulinos” estão por aí na busca constante de encontrar carniça, defeitos insolúveis e evidenciar falhas que, por mais que queiramos, já não teriam mais consertos.

A eles devemos pedir, em tom de súplicas: por favor, sejam generosos, não evidenciem os defeitos que não podem mais ser reparados ou que já conhecemos e sabemos possuidores, pois tudo que, de alguma forma, for irreversível, se ratificado por outro, só aumentará o nosso sofrimento. Ao demonstrá-los estarão apenas magoando, tocando numa ferida incurável, fazendo-a sangrar muito mais.

Sejam caridosos. Se existe alguma coisa possível de conserto, avisos, advertências, orientações, sugestões são muito oportunas e bem aceitas. Mas sobre o que está consumado, silenciar é o melhor. Portanto deixem que vivamos na nossa “mentira”. É menos traumático. Procurem algo que realmente mereça ser mostrado e, se quiserem se manifestem. Se não quiserem, o silêncio, nestas horas é o melhor remédio

 

Domingos Pascoal

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

ACADEMIAS LITERARIAS: AS FACES DO INTERCÂMBIO CULTURAL


ACADEMIAS LITERÁRIAS: AS FACES DO INTERCÂMBIO CULTURAL 

Pronunciamento da Professora Edleide Santos Roza, presidente da ARLAC -Academia Riachãoense de Letras Artes e Cultura, na mesa-redonda: Intercâmbio cultural e literatura entre irmãos na FLIG - Festa Literária de Glória, no dia 30 de agosto de 2023 na cidade de Nossa Senhora da Gloria - Sergipe.
 



Caríssimas confreiras, caríssimos confrades, senhoras e senhores, boa noite!

É preciso iniciar a minha apresentação fazendo um agradecimento ao confrade Carlos Alexandre pelo convite para estarmos aqui, participando desta mesa-redonda. A Academia Riachãoense de Letras, Artes e Cultura (ARLAC) é a mais recente academia fundada no estado de Sergipe, a caçula das academias, e já foi convidada a participar de um evento tão grande como a Festa Literária de Glória. Isso é motivo de grande honra e alegria para nós. Já cheguei encantada com tudo que vi. Eu já vinha acompanhando as postagens feitas nas redes sociais. Então, preciso realmente agradecer. Sou Edleide Roza, professora, escritora, amante do cordel, aposentada pela rede estadual e, no município de Riachão do Dantas, estou lotada na Secretaria Municipal de Educação. Portanto, no momento, estou fora da sala de aula, porém, cada vez mais, adentrando nesse universo do ensinar e aprender, e agora do aprender para ensinar cada vez mais.
 
A ARLAC foi fundada em 24 de maio de 2022. Quando da sua instalação, em 20 de maio deste ano, tomei posse como presidente. Sou da Equipe de Fundação, ocupo a Cadeira nº 4, cujo patrono é Valeriano Felix dos Santos, outro nobre cordelista riachãoense, também patrono na Academia Sergipana de Cordel, Cadeira nº 34. Ao receber a postagem de uma mesa-redonda sobre cordel, disse: Carlos Alexandre se enganou quanto a minha participação na mesa-redonda, mas ele não conhecia esses detalhes da minha ligação com o cordel. Espero, pelo vivido ao longo dos anos com meus alunos e pelo muito aprendido nessa recente caminhada de acadêmica, contribuir para a discussão do tema proposto.
Se é para falar do intercâmbio entre as academias, posso dizer que o experienciado nos últimos três anos, para mim, tem sido de um intenso intercâmbio, desde o primeiro telefonema dado para Carlos Alexandre e, na sequência, o primeiro contato estabelecido com o Sr. Domingos Pascoal. Se a palavra intercâmbio favorece e, sobretudo, fala de troca de conhecimento, de aprendizado constante, porque ninguém é completo em si, nem mesmo enquanto academia, por mais diversos que sejam seus acadêmicos e variadas as áreas do saber por ela abraçadas – letras, artes e cultura – nenhuma é completa e jamais será completa em si mesma, haja vista nenhum sujeito humano ser completo em si. Tenho assim aprendido e, na minha incompletude, espero contribuir trazendo o muito vivido durante esses três anos de profícuo intercâmbio.
Para fundar uma academia, os senhores já passaram por isso e sabem, buscamos estabelecer contato com inúmeras pessoas. E apesar do município de Riachão do Dantas ser conhecido como “Terra de Intelectuais”, esses filhos ilustres dispersos, tivemos o prazer de reuni-los só agora. Então, entre nós mesmos, enquanto acadêmicos, tem sido uma troca constante de conhecimento. Por isso, no segundo momento, espero falar um pouco mais acerca da importância do intercâmbio cultural entre as academias, ressaltando outras faces do intercâmbio. 

Domingos Pascoal, Lucas Lamonier, Edleide Roza, Carlos Alexandre e Kelber Rodrigues.

Retomando a minha fala, pedirei permissão ao escritor aqui presente, o Sr. Domingos Pascoal, e licença a todos para ler um trecho que me chamou atenção e, quando li, disse não poderia falar hoje, nesta mesa-redonda, a não ser iniciando por estas palavras: Lembrar que tudo isso aqui começou com a percepção de cinco pelerines diferentes! E quão grande tem sido o intercâmbio promovido de lá para cá. De 2010 para cá, doze “longos” anos se passaram.  Longos pelo mu ito produzido. Um curto espaço de tempo, mas longo em produção. Não tenho dúvida de acreditar e dizer: o que nós estamos vivendo hoje, o que estamos vivendo no estado de Sergipe, depois de noventa anos da fundação da Academia Sergipana de Letras, é uma verdadeira revolução! Em doze anos, mais da metade dos municípios sergipanos têm atualmente uma academia no seu lugar, promotora, principalmente, pelo menos assim temos visto lá em Riachão, do conhecimento dos filhos da terra. Este é o primeiro aspecto positivo observado em nossa academia.
Conforme disse inicialmente, apesar do município de Riachão do Dantas ser conhecido como um “Celeiro de Intelectuais”, pelo menos, desde os anos 90, quando estava na UFS, eu já ouvia lá esse qualitativo, os nossos escritores e historiadores, dispersos pelo estado e pelo país afora, muitos deles não eram conhecidos pelos riachãoenses, não obstante terem sempre se identificado como filhos de Riachão. Entretanto, por terem passado a maior parte da vida 
longe da nossa cidade, ainda hoje escutamos em relação a eles: “Eu não sabia que era de Riachão do Dantas.” Assim, iniciarei a leitura do trecho por mim destacado, na certeza de que a palavra para o vivenciado nos últimos anos no estado de Sergipe é revolução; uma grande revolução cujo olhar humano não é capaz de vislumbrar os frutos, doravante, obtidos. Com certeza, silenciosa, mas uma profunda revolução! Vamos ao trecho. 




[...] em Arapiraca [...] pude constatar, para minha alegria, a presença de cinco acadêmicos com pelerines diferentes. Apressei-me em saber das origens. Foram-me apresentadas as representações das academias de: São Miguel dos Campos, Penedo, Palmeira dos Índios, Maceió e outro município, que não consigo recordar o nome. [...] Para mim, foi uma grata surpresa e novidade, na minha posse na Academia Sergipana de Letras, oito meses antes, no dia 20 de outubro de 2009, não recordo da representação de nenhuma outra academia presente. Pensando bem, devo afirmar, salvo melhor juízo, que aqui em Sergipe não havia este hábito de uma academia frequentar a outra em suas solenidades ou sessões. Esta prática apareceu depois de um esforço do nosso presidente, Dr. José Anderson, em ir, juntamente com outros acadêmicos, eu inclusive, a outros templos de saberes. Foi quando começamos a frequentar a Academia Sergipana de Medicina e, também, a ASL começou a receber visitas dos confrades daquela Arcádia. A outra razão para que essa tão salutar troca de gentilezas, validando um, o trabalho do outro, não fosse, até então praticada em Sergipe, era pelo simples fato de que, naquela época, podíamos contar, em todo o Estado de Sergipe, apenas cinco academias literárias o que, convenhamos, dificultava muito essa saudável troca de cortesias. (PASCOAL, Domingos, Jornal Intercom, ano I, nº 2, Barra dos Coqueiros/SE, 15 ago 2023, p. 5, grifos nossos)



 
O Sr. Domingos Pascoal, ao participar de uma solenidade acadêmica em Arapiraca/AL, percebeu “cinco acadêmicos com pelerines diferentes” e recordou que na posse dele aqui em Sergipe, na Academia Sergipana de Letras (20/10/2009), não havia “representação de nenhuma outra academia presente”. Daí, voltamos às origens da academia na Grécia antiga, aos questionamentos feitos por Sócrates, porque conhecimento deriva muito do questionamento, da pergunta, da curiosidade em saber.  Se são diferentes, não são do mesmo lugar. Daí, a descoberta de serem pelerines das cidades do interior de Alagoas. E por que não tem pelerines diferentes no estado de Sergipe? Portanto, Sr. Domingos Pascoal, se hoje nós temos aqui, na Festa Literária de Glória, tantas academias 
citadas, cerca de quinze a vinte; se hoje posso vislumbrar uma, duas, três, quatro, cinco, seis, pelerines diferentes, fora os que não estão usando, com certeza, essa grande diversidade deve-se a concretização do seu sonho. E se uma academia é composta de estrelas, mas no céu tem espaço para todas brilharem, e, quando olhamos para o céu, as estrelas não brilham apenas sobre um determinado lugar, mas em vários, de modo que eu, morando em Riachão do Dantas, vejo a mesma estrela que as pessoas aqui de Glória veem, então, precisava que a academia saísse de um espaço restrito (a capital) e começasse a ser disseminada pelo interior do estado. E, assim sendo, em apenas dois anos, em termos da ARLAC, a noite seria muito pequena para dizer de todos os frutos já colhidos. Estou aqui com o confrade Lucas Andrade e a confreira Edite Souza, e eles também são testemunhas disso. A expectativa produzida nesse curto espaço de tempo, a semente por nós plantada, é consoante aquela semente de mostarda, servirá de abrigo para muitos. Academia também é isso, um espaço que vai abrigando sonhos e memórias. 
Voltando à matéria do Sr. Domingos, eis mais alguns trechos substanciais:  

“aqui em Sergipe não havia este hábito de uma academia frequentar a outra em suas solenidades ou sessões. Esta prática apareceu depois de um esforço do nosso presidente, Dr. José Anderson, em ir, juntamente com outros acadêmicos, eu inclusive, a outros templos de saberes”. Quão bom estar esse verbo grafado no pretérito – “não havia”!  “Foi quando começamos a frequentar a Academia Sergipana de Medicina e, também, a ASL começou a receber visitas dos confrades daquela Arcádia. A outra razão para que essa tão salutar troca de gentilezas [...]” (Como amei essa expressão!). Isso porque os laços não são somente de troca de livros, de conhecimento das pessoas, mas o convívio diário na academia estreita, ainda, a afetividade, a ponto de se ser sincero e dizer seu lugar não é aqui, se preciso. Desde que se resguarde sempre o respeito e o amor, a verdade precisa caminhar atrelada as nossas academia. 

 
A outra expressão por mim destacada da matéria foi “validando um, o trabalho do outro”.  Quão grande foi a minha felicidade quando Carlos Alexandre, ao receber o convite para a Solenidade de Instalação da ARLAC, disse-me: “Para a Fundação eu não fui, mas para a Instalação, certamente, estarei aí em Riachão do Dantas.” E depois fez-nos o convite para estarmos aqui, na FLIG. Isso é validar o nosso trabalho e dizer: “Vocês são a mais nova Academia, mas nós acreditamos em vocês!” E nós sairmos de Riachão para estarmos aqui, nesta noite, é dizermos de igual modo: Nós acreditamos no que está acontecendo aqui em Glória! E como encanta esta festa! É dizer, igualmente, estamos aqui, porque já colocamos na nossa agenda uma feira literária e queremos aprender com o irmão mais velho.
Portanto, nós também estamos aqui para absorver, olhando na prática, tudo o que está acontecendo e “devorar” a cultura do outro (antropofagia cultural, conforme apregoado pelo "movimento antropofágico" modernista). E, em se tratando de seres humanos, o saber, o conhecimento, quando é partilhado, como ocorrido nesta festa, é multiplicado. Nada se esgota. Então esse devorar é altamente benéfico! Ele me alimenta e alimenta o outro, sabendo ele que, se serviu para me alimentar, o alimento produzido é excelente, nutritivo e bom; é um alimento que degustamos e nos fortalece. E nós estamos aqui para degustar o que culturalmente está sendo produzido nesta festa pela Academia Gloriense de Letras, validando, assim, um o trabalho do outro. Esse é o nosso primeiro grande papel enquanto Academias. Eu Acredito nisso. Isso é intercâmbio! Se essa troca era dificultada no passado, de acordo com o exposto por Domingos Pascoal, pelo sempre simples fato de, naquela época, haver em todo o estado de Sergipe apenas cinco academias literárias, agora já podemos trocar o verbo “dificultar” por seu antônimo, “facilitar”. Tudo, portanto, está concorrendo para a intensificação do intercâmbio entre as academias irmãs. Atualmente temos 43 arcádias fundadas e mais quatro em andamento. Fazer esse intercâmbio acontecer é necessário, pois ele diz, ainda, da diversidade.
Falar da diversidade constitutiva do povo brasileiro é fato. No entanto, é preciso ver igualmente a diversidade existente dentro dos nossos municípios e observar o que podemos explorar. Quando dos trabalhos para a fundação da ARLAC, houve um debate em relação à academia ser apenas de “Letras” ou também de “Artes”. Chegamos à seguinte conclusão: Temos nomes de filhos ilustres no universo das letras, assim como temos os ilustres populares. Aqueles que no chão, na sua luta diária, contribuíram para a construção dos saberes existentes em nosso município. E estes não podem se perder, porque nossos filhos e netos têm o direito de herdarem todos os bens e tudo de bom produzido em nossa terra. Desse modo, nossa academia abraçou, para além das “Letras”, os termos “Artes” e “Cultura” na sua denominação. E quanto pesa a inclusão de um termo!
Uma academia precisa promover o intercâmbio entre os intelectuais do universo das letras, mas, dentro do seu local, precisa promovê-lo, de igual forma, entre os chamados “intelectuais” e os “ilustres populares”. Quantas pessoas do povo construíram a sua terra ali, no chão de cada dia, no dia a dia, e não são lembradas, nem notadas, por não terem seus nomes estampados nos jornais ou nas estantes das bibliotecas? Esses nomes não podem ficar esquecidos. Eles, de igual modo, precisam da imortalidade para que o conhecimento popular por eles produzidos não se perca. Nesse sentido, a academia precisa efetivar o intercâmbio entre os saberes, quer do universo das letras, do artesanato ou da música. Por isso, compõe nossa ARLAC o maestro, formador de gerações de músicos, e a artesã, a única no município a trabalhar com o artesanato de barro.
Por sua vez, falar de intercâmbio cultural entre academias é momento oportuno para ressaltar, inclusive, a importância do intercâmbio intra-acadêmico. Precisamos desse olhar voltado para quem somos e para o conhecimento do trabalho de cada um, porque somente com o conhecimento acurado de quem somos impregnado na alma é que teremos força e palavra de convencimento para dizer ao outro: Este aqui você também precisa conhecer. Ele é filho da terra, é seu conterrâneo. Isso porque é preciso promover, igualmente, um grande intercâmbio entre nossos acadêmicos e o povo de Riachão do Dantas. Se queremos criar asas e voar, não podemos esquecer nossas raízes. Não podemos levar os nomes dos nossos acadêmicos para outros lugares, se em Riachão eu falo Valeriano Felix dos Santos, Francisco José Costa Dantas, e o estudante, e o povo riachãoense não sabe quem é. Por isso, este ano o grande homenageado no Festival de Inverno de Palmares, um grande evento cultural do nosso município, foi o romancista riachãoense Francisco Dantas, titular da Cadeira nº 3 da nossa academia, e a ARLAC estava lá. O primeiro grande intercâmbio precisa ser, portanto, intra-acadêmico e, na sequência, entre a academia e sua gente, ou seja, o local onde ela está instalada. É lá o primeiro lugar onde ela deve produzir seus frutos.
Para além disso, aprendi, logo no início dessa caminhada, que muitos dos nossos acadêmicos não estavam sendo convidados a ingressar na academia para se tornarem “imortais”. Não. E no convite enviado assim expressava: “Já és um imortal pelo seu trabalho e nós temos ciência plena disso. Mas a academia é de Riachão do Dantas e és riachãoense!” Assim foi dito a nomes como o de Ibarê Dantas, Francisco Dantas, Terezinha Oliva, só para citar alguns. E, partindo da visão de precisávamos reunir esses nomes altamente conhecidos além-fronteiras, nossa academia soube ver, também, a escrita dos jovens pesquisadores, a exemplo da professora Edleide Roza e do nosso linguista, o doutorando Lucas Silva. Ambos com trabalhos já apresentados e publicados até no exterior.  Aqui, eu falo do encontro de gerações.
Em Riachão do Dantas houve uma lacuna grande entre gerações. Por ser um município pequeno e, à ocasião, só ter o ensino primário, muito dos seus filhos saíram para estudar em Aracaju e lá se estabeleceram. Quão bom agora, no amadurecer da vida, essas pessoas estarem encontrando a felicidade de voltar a Riachão, sua terra natal, lugar nunca por eles esquecidos! Contudo, é preciso fazer uma ponte, construir uma identidade entre eles e o público jovem, o estudante que está começando. É preciso promover o intercâmbio entre as gerações, para nada mais restar da lacuna do tempo de, digamos, duas gerações. 
A minha geração, quando entrei na UFS, eles estavam lá, professores, chefes de departamentos. Muitos, não poucos. Por isso, da UFS que saiu o epíteto de Riachão “Celeiro de intelectuais”, abraçado por nossa academia com o lema “Terra de Intelectuais”. Por ser uma cidade pequena, Riachão do Dantas, naquele templo do saber, chamou a atenção por ter tantos riachãoenses lecionando lá. Porém, a minha geração já encontrou esses primeiros desbravadores, os “pioneiros das antigas novidades”, quando eles já tinham em torno dos seus cinquenta anos. Por isso, tornou-se, ainda, um compromisso da nossa academia servir de ponte entre as gerações. 
O intercâmbio entre gerações precisa acontecer, igualmente, nas nossas academias. E a ARLAC abraçou em seu sodalício os jovens escritores, porque, reafirmando o proferido no meu pronunciamento quando da Solenidade de Instalação: “Os nossos filhos, os nossos netos merecem, têm o direito de herdarem todos os bens culturais e artísticos desenvolvidos dentro do nosso município. E todos são todos! Para que nada se perca e eles tenham o que nós tivemos: a mesma oportunidade de sonho; o mesmo querer estar em uma academia; o mesmo, pelo menos, pensar, ‘se Edleide está lá, eu também um dia posso estar, porque a mesma realidade que ela viveu, eu vivo hoje’”. 
Enquanto academias, sejamos como faróis, promovendo o intercâmbio entre nós mesmos, tendo em mente nos conhecermos cada vez mais; e, de igual forma, entre os próprios acadêmicos, internamente, pois faz-se preciso conhecer o outro que está ao nosso lado, quais os seus sonhos, para poder ajudá-lo; e, ainda, entre gerações, a fim de tornar conhecidos os antigos desbravadores, a exemplo daquele que teve coragem de lançar um livro aos 83 anos, o confrade Hélio de Souza Oliveira. Isso, para nossos jovens olharem e dizerem: “Eu, de igual modo, quero lançar um, mas se puder fazê-lo antes, melhor.” E seu anseio é possível, porque já teve alguém à frente para mostrar-lhe o caminho. 

*Edleide Santos Roza é Professora Mestra em Letras pela UFS, membro fundadora e presidente da Academia Riachãoense de Letras, Artes e Cultura (ARLAC), Cadeira nº 4, cujo patrono é Valeriano Felix dos Santos. 



quinta-feira, 11 de janeiro de 2024




INSTALAÇÃO DA ACADEMIA DE EDUCAÇÃO DE SÃO CRISTOVÃO

Auditório do Museu de Arte Sacra de São Cristovão

10 de janeiro de 2024




Dia 10 de janeiro de 2024, no auditório do Museu de Arte Sacra de São Cristóvão, nasceu mais uma Arcádia Literária em Sergipe. A Academia Sancristovense de Educação que foi regularmente instalada pelo Acadêmico professor Domingos Pascoal de Melo, que, na oportunidade, representou os presidentes da Academia Sergipana de Letras, Dr. José Anderson Nascimento e, da Academia Sergipana de Educação, professor Jorge Carvalho do Nascimento. 

 

Na oportunidade tomaram posse 13 acadêmica(os) efetivos e Vitalícios, 1 honorário e 1 correspondente. A Academia Sancritovense de Educação chega para se somar a Academia Sancritovense de Letras Ciências e Artes e a Confraria Sancristovense de História e Memória para promover, mais ainda, a educação, a cultura e as letras em São Cristóvão de Sergipe, a quarta cidade mais antiga do Brasil.

 


quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Academia Sergipana de Letras e Academia Sergipana de Medicina

Academia Sergipana de Letras e Academia Sergipana de Medicina
fizeram história no dia 4 de dezembro de 2023.

[…] “meu filho, toda vez que você passar em frente a Academia Sergipana de Letras, faça como eu, tire o chapéu!  Nesta casa estão os sergipanos mais ilustres. É a casa de Tobias Barreto, Silvio Romero e muitos outros grandes intelectuais sergipanos” […]
Dr. Geraldo Leite.

   

Acadêmicos: Jorge Carvalho, José Anderson, Roberto Cesar, William Soares, Geraldo Leite, Lúcio Prado e João Macêdo

    A quase centenária Academia Sergipana de Letras junto à Academia Sergipana de Medicina realizaram, no dia 4 de dezembro do corrente ano, um feito histórico: duas sessões acadêmicas na mesma tarde e, pela primeira vez, nos 94 anos de vida da ASL e 29 anos de existência da ASM, esse fenômeno aconteceu. 

    A já tradicional sessão das segundas-feiras, às 15 horas, no Palácio Acadêmico da Rua Pacatuba, sede da ASL – Academia Sergipana de Letras, presidida por Dr. José Anderson Nascimento, recebeu a ilustre e honrosa visita do confrade da Academia de Medicina da Bahia, fundador e presidente da ABROL – Academia Brasileira Rotária, presidente da Fundação José Silveira e, ainda criador de mais de 70 Academias de Letras, Medicina e Rotárias no Brasil e outros países, Dr. Geraldo Leite, um sergipano, radicado na Bahia e, que muito tem feito para levar e elevar, o nome de Sergipe para os quatro cantos do Brasil e do mundo, a partir da Bahia. 

    Em seu discurso de agradecimento, lapidou a simbólica e significativa frase à epígrafe, que sobremodo honrou e enalteceu a Casa de Tobias Barreto. 

    Encerrada a sessão da ASL, por volta das 16h30, iniciaram-se, logo em seguida, os trabalhos da ASM – Academia Sergipana de Medicina, presidida pelo Dr. Willian Soares. 

    A ASM foi idealizada, precisamente, por Dr. Geraldo Leite e Dr. Tomás Cruz, há 30 anos, e fundada no dia 9 de dezembro de 1994. Todavia, por algum capricho do destino, um dos idealizadores, Dr. Geraldo, não esteve presente na solenidade de fundação, o que, de certa forma, o deixou muito triste. 

    Não obstante, jamais reclamou e nem deixou transparecer descontentamento, apenas calou, orou e esperou, como afirmado em sua lapidar peça gratulatória, quando ele mesmo disse: “[...]Tenho a certeza de que o homem se comunica com Deus por meio da oração e Deus responde. Deus responde com inspiração, é a inspiração Divina, e eu orei, lamentando a minha ausência naquele momento tão importante para minha terra e para mim, como sergipano - oh meu Deus, eu tinha tanta vontade de estar presente!  E Deus respondeu. Deus tocou em Lúcio! Meu querido Lúcio! Deus tocou em seu coração e aqui estou por obra e graça Divina, recebendo um título que tanto sonhei[...]”. 

    Realmente, Deus tocou no coração do Acadêmico, Dr. Lúcio Prado Dias, que propôs a concessão da maior honraria daquele Sodalício, a Medalha de Membro Emérito e, por unanimidade, foi aceita, e ele veio a Aracaju na segunda-feira, 4 de dezembro de 2023, após três décadas de uma silenciosa e angustiante espera, receber, emocionado, este galardão sonhado, representado pela insígnia de Membro Emérito da Academia Sergipana de Medicina. E agradece, de forma digna e elegante, com uma declaração que merece ser divulgada:

    [...] “Houve um dia, na Bahia, que existiam duas faculdades de Medicina: uma no Terreiro de Jesus e outra no bairro de Nazaré, ambas dirigidas por sergipanos. No Terreiro de Jesus, por Thomaz Cruz, de saudosa memória. No bairro de Nazaré, por Geraldo Leite, que aqui está.

    Um dia, os dois diretores, conversando amavelmente, como sempre, na Academia de Medicina da Bahia, da qual, ambos éramos membros, progredimos numa ideia de criar, no nosso torrão natal, uma Academia de Medicina. 

    Levamos à presidência da congênere baiana o nosso pleito, a ideia prosperou e o sonho se tornou realidade, mas, por um capricho do destino, não pude participar. 

    Tenho certeza de que o homem se comunica com Deus, por meio da oração e Deus responde.

    Deus responde com a inspiração, é a inspiração Divina. Eu orei, lamentando a minha ausência - oh meu Deus, eu tinha tanta vontade de estar presente!  E Deus respondeu.

    Deus tocou em Lúcio! Meu querido Lúcio! Deus tocou em seu coração e aqui estou por obra e graça Divina, recebendo um título que tanto sonhei. 

    Eu prometo aos meus confrades sergipanos que guardarei este título honroso, com muito carinho porque ele é uma manifestação de Deus. 

    Deus, por intermédio de Lúcio, deu-me uma compensação, e que compensação! Portanto, meu Deus, muito obrigado e, muito obrigado a todos vocês. Deus seja Louvado!”

    Na verdade, dia 4 de dezembro de 2023 é uma data para ficar marcada na história e na memória das Academias Sergipana de Letras e Sergipana de Medicina e de seus acadêmicos.

Domingos Pascoal


Por: José Barros dos Anjos.                                                                                                       No dia 4 d...