Impressões do I Encontro de Jovens Escritores do Alto Sertão Sergipano
Por Antônio Saracura
Em princípio eu não
iria, precisava adiantar o acabamento de meu livro “Os Curadores de Cobra”, que
penso em publicar ainda este ano, e o tempo voa. Mas Carlos Alexandre (um dos
líderes invejáveis da Academia Gloriense) ligou-me e pediu 30 exemplares de
“Meninos que não queriam ser Padres”. Meu livro será leitura obrigatória em uma
turma durante o ano todo. Sairão composições, poemas, filmes, vídeos,
debates... Muito bom para o autor que valoriza leitores de agora e do futuro.
E ainda havia o fato
do evento ser em Glória, perto de Itabaiana, e na academia Gloriense, que dá
gosto ver de perto o trabalho que ela vem fazendo pela literatura sergipana.
Não só Carlos Alexandre, mas Jorge Henrique, Lucas Lamonier e outros. De outras
vezes, retornei gratificado.
Consegui chegar às
dez horas e ainda peguei um restinho (estava nos debates) da palestra de
Cristina Belinski (A prática da leitura e o fortalecimento da escrita),
professora da UFS, núcleo de Itabaiana, que achou campo fértil na terra seca do
sertão para plantar sua teoria poética, para fazer brotar cronistas e contistas
como o milho sertanejo nos bons invernos.
No primeiro
intervalo, fui surpreendido por Jorge Henrique, o presidente de honra da
academia (de fato é Lucas Lamonier): um novo projeto que irá desenvolver este
ano com seus alunos adiantados. Queria ouvir-me. Usará um de meus livros de
contos (Os Ferreiros) – viva, urra! – para criar filmes de curta metragem
legendados em inglês. Além do meu, selecionou também dois outros autores:
Vladimir Souza Carvalho (Feijão de Cego) e Antônio Carlos Viana (A hora de
matar lagartas). Boas, excelentes companhias para mim: Vladimir, que acaba de
ser apontado pela revista Super Interessante como o mais importante escritor
sergipano de todos os tempos, e Antônio Carlos Viana, o incomparável contista
que faleceu outro dia e o Brasil inteiro lê com sofreguidão.
Coloquei-me ao
inteiro dispor. Como não o fazer?
Entreguei oito
exemplares de Os Ferreiros, que carregava em meu carro, para os alunos de Jorge
Henrique começarem a luta. Depois enviarei mais dois exemplares, pois 10 alunos
estudarão cada autor.
Passei uma mensagem
para Vladimir comunicando-lhe, e, de imediato, entreguei a Jorge dois
exemplares de Feijão de Cego, que trazia comigo, para adiantar. Espero que
Vladimir, que não deu retorno ao WhatsApp, aceite o ônus.
Muitos testemunhos de
jovens escritores e sua vivência com a escrita. Cada um mais emocionante. Os
músicos do Gado Bravo botaram pra quebrar um pouquinho. A incentivadora de
leitura que está mudando sua família, seu bairro, sua cidade. O OPS (grupo
formalizado em Aracaju), que trabalha na descoberta de novos leitores. Guris
cordelistas e declamadores. A poetisa que recitou o poema sobre o estupro
e a mulher (taí um poema que me atingiu em cheio). A professora cantora
que, sem qualquer acompanhamento, deu um show. A garotada está impregnada com a
produção literária. Os professores levam a literatura à sala de aula, essa é a
verdade, por isso está acontecendo esse fenômeno.
Faltou um folder com a
programação, sinto falta agora. Estou perdido sem saber os nomes a citar aqui.
Uma mesa redonda teve garotas sensacionais, falando como grandes escritoras,
pois já se sentem assim. Eu, após cinco livros publicados e com algum sucesso,
ainda não me sinto tão confortável como elas demonstraram estar. Nem todos os
nomes escaparam, gravei alguns que precisam ser guardados, ainda os louvaremos:
Luciene de Oliveira, Calyne Porto, que comandaram uma mesa redonda boa demais.
Carlos Alexandre, uma
das vozes da coordenação do evento, insistiu no jargão: Não interessa se os
outros vão gostar ou não do que escrevo, basta que eu goste. Será verdade? Não
estaria se perdendo uma grande oportunidade de se fazer melhor para o público
exigente.
Em Monte Alegre
existem cerca setenta jovens produzindo literatura, devidamente identificados.
Muitos do projeto denominado “De mãos dadas com a poesia”. E lendo, e cônscios
de que “a leitura transforma o mundo”. Há o “Cavalo do cão” um grupo de poetas
que, na internet, submete poemas um ao outro, pedindo avaliação.
Finalmente uma mesa
de pessoas idosas, mais ou menos. Sob o comando de Solange Gama. Jorge
Henrique, Calos Alexandre, Lucas Lamonier e Domingos Pascoal. As academias são
como as pulgas da fábula, mordem aqui e ali e provocam uma revolução. Pascoal
ressalta a importância do registro dos acontecimentos, fazendo atas, textos
para a imprensa. Para jamais se apagarem. Relembra o start para a criação das
academias em Sergipe. O ponto zero foi a sessão a que assistiu na academia de Arapiraca,
onde viu outras academias do interior de Alagoas presentes. O pensamento do
momento era de que não cabia mais academias em Sergipe, além da Sergipana (1929).
Hoje já coube 26, e ainda está folgado.
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