Lançamento da III Antologia Literária da Loja Maçônica Cotinguiba



Antônio Francisco de Jesus Saracura

(18 de março de 2017)

Um evento espetacular acontecido no dia 18 de março a partir das 15:00 horas estendendo-se até as dezenove, na sede da Loja rua Santo Amaro, 171, em Aracaju. Este é o terceiro ano seguido em que a Loja Maçônica Cotinguiba promove um concurso literário amplo para estudantes, faz o lançamento da Antologia gerada e premia os melhores textos.

Estavam presentes alunos escritores, a maioria com prêmios a receber, todos de peitos estufados, eram pequenos deuses, fizeram acontecer. Professores orgulhosos de seus pupilos, de várias escolas de alguns Estados, além de Sergipe: Rio de Janeiro, Alagoas, Ceará, Mato Grosso do Sul, Piauí. Carlos Alexandre, Kelber Andrade, Edivan Santos, Lucas Lamonier, Inez Rezende. Secretários de governo, autoridades, intelectuais e o comando da Loja Maçônica Cotinguiba: a imortal Marlene Calumby; a secretária de cultura de Itabaiana, Matilde Costa; o poeta Joelino Dantas; a cordelista Salete Nascimento; o jornalista Luiz Eduardo Costa; o presidente da Academia de Medicina, Paulo Amado... A imprensa esteve presente (televisão e repórteres de jornais e portais), filmando e entrevistando, gravado depoimentos, fazendo com que os professores e os alunos se sentissem as estrelas que eram realmente.

Jilvan Pinto Monteiro, que comandou a mesa ao lado do venerável Ibraim, disse, na abertura, emocionado: "No ano passado, uma professora chegou perto aqui do altar e me disse ‘os senhores fizeram com que eu não desistisse de ser professora’. Foi muito bonito escutar. Todos da mesa nos emocionamos, demos alento à professora (Edriana Rocha, de Itabaiana, Colégio Estadual Cesar Leite) em sua missão de ensinar, de construir um novo Brasil. Não é apenas o salário que faz um grande professor, é o reconhecimento dos pais de seus alunos, da sociedade, de cada um de nós. Não lembro qual o nome da professora, ela é uma classe inteira representada por vocês aqui presentes”. E prosseguiu contando um pouco da história da maçonaria, tão incompreendida até outro dia. Sempre esteve empenhada no crescimento dos mais humildes. Assim é que criou, no dia 24 de setembro de 1916, antes que se pensasse no Mobral, a LIGA SERGIPENSE CONTRA O ANALFABETISMO, chegando a manter 42 escolas para adultos, em Aracaju e várias cidades do interior do Estado. Por ser a favor das minorias é que teve irmãos queimados nos fornos do nazismo de Hitler ao lado dos Judeus e de outras minorias. Antes da libertação dos escravos no Brasil, as lojas maçônicas formavam bolsas de doações e, a cada mês, davam cartas de alforria.

Como foi possível obter todos esses trabalhos literários, mais de mil (1.336), em tantos colégios espalhados em vários Estados? Graças a uma campanha hercúlea do idealizador e gestor do projeto, Domingos Pascoal, utilizando redes sociais, mandando cartas pelo correio, visitando in loco escolas, proferindo palestras, dando entrevistas. Telefonando, orando...

Como analisar a parafernália de textos que começaram a chegar pela internet, pelo correio, em mãos, até manuscritas algumas? Saber qual incluir na Antologia e a qual premiar? Graças a um exército de professores e voluntários, entre os quais as invencíveis doutora Cristina Bielinski (UFS) e educadoras Cris Souza (Rede Municipal) e Sonia Azevedo (Faculdade Pio X), ao incansável Domingos Pascoal.
Como construir essa festa na Loja Maçônica, como financiar a edição de uma antologia de mais de trezentas e setenta páginas e mil exemplares, como dar ricos prêmios a professores e alunos, como prover medalhas e comendas, suprir alimentos ao corpo de tanta gente, pois o evento foi longo? Os maçons da loja Cotinguiba meteram a mão no bolso, no fundo, e encheram uma bolsa capaz de dar conta disso tudo, que não é pouco. Afinal, era uma causa justa ao coração e à razão.

Como esse mundo de alunos e professores pode estar presente? Graças a um esquema de transportes montado pelos organizadores, que recebeu apoio integral do secretário de Estado da Educação, professor Jorge Carvalho, que delegou a competente assessora Isabela, que esteve presente, através de um grupo de Whatsapp por ela criado, em toda a operação de logística para trazer todos os alunos, professores e familiares desde o recanto mais longínquo ao colégio mais próximo aqui na capital. Onde tinha um aluno, ali esteve Isabela, por ordem do senhor secretário, oferecendo a possibilidade de locomoção de vinda e volta ao seu povoado mais distante.

Eu fiquei misturado à plateia, arrumei um cantinho no andar de baixo e, depois, no andar de cima, onde está o altar da loja. Bati fotos, anotei passagens, vi gente diversa de todos cantos e cores, todas com brilho nos olhos e cada uma falando ao vizinho: “meu filho, meu aluno foi premiado pelo poema, pela crônica, pelo conto”. Recebia um cumprimento efusivo e retribuía em seguida, porque o vizinho também possuía um feito igual. Um menino elétrico, pequeno do tamanho de uma castanha, estava à minha frente, ao meu alcance. A mãe, sobriamente trajada, não desgrudava os olhos dele e, com a mão longa, ia segurando os objetos que ele derrubava na mesinha de secretário da loja, mal colocada ali pela mudança de foco. Camisa vinho tinto de mangas compridas, relógio enorme com pulseira vermelha, cabelos cheios e abertos de um lado. Mãos traquinas, olhos de radar, corpinho serpenteante e escorregadio... A zelosa mãe, de cara sisuda, tentava prendê-lo também assim. Eu criava mil fantasias, ora vestindo a roupa vinho do pirralho, ora o vestido sóbrio da mãe. Estiquei-me para segurar um abajur que escapou da mãe e resvalou ao meu lado, e uma voz clara ecoou lá em cima, no altar maçônico, chamou o nome de mais um aluno premiado: LEONARDO VIEIRA.


A mãe zelosa e o menino elétrico partiram céleres ante meu espanto. E daí a um minuto o pequeno desceu, aos pulos, do altar maçônico, com uma medalha enorme, maior do que ele mesmo, pendurada por uma fita azul ao pescoço. Levantou a medalha com a mão ínfima acima da cabeça, levou-a aos dentes e mordeu de um lado e do outro. Fez mesuras à plateia encantada. Estava ali um campeão olímpico descendo do pódio cheio de glória. A mãe e filho retornaram ao lugar de origem. Levantei-me contrito por ter pensado mal e apertei a mão do menino herói, agora meu ídolo. Bati fotos que guardarei como lembrança desse momento singular que tive a honra de viver e contar.


Fotos: Saracura.





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